Posso dormir aqui?

O escuro parece aflorar todos os nossos medos e intensifica todas as nossas fraquezas, nos deixando ainda mais nervosos. Isso me faz lembrar quando eu era ainda criança, em que meus pais costumavam me acolher em sua segura e protetora cama.
Era exatamente 23h00min quando todos estavam se recolhendo para suas camas, logo após, todas as luzes já haviam sido apagadas. Começaria então, a hora exata de bater o meu queixo, mas não de frio, e sim de medo. Sons estranhos pareciam vir de todos os lugares, a sensação de não estar sozinho começava a me assombrar ainda mais, a vontade de conseguir adormecer, fazia exatamente o contrário. Todas as noites a mesma agonia, o mesmo medo, medo de algo ruim que o escuro poderia me trazer, ou mesmo me fazer.
No mais de repente que se pode imaginar, a porta do meu quarto se abre, dando espaço à vontade de gritar que vem logo em seguida, mas me controlo e embrulho a minha cabeça, como qualquer outra criança em meu lugar, que tem o cobertor, como o único objeto protetor, contra o que tanto lhe ameaça.
Minutos se passam e o calor embaixo do cobertor me agoniza ainda mais, o que fazer para poder conseguir dormir? Desembrulho a minha cabeça, olho para todos os lados como quem estivesse desconfiado de algo. Quem abriu a porta? O desespero de haver alguém dentro do quarto comigo me fez ter a idéia de sair correndo, tremendo intensamente para o quarto dos meus pais. Lá me deitei encolhido no pé da cama, até eles me acolherem para o meio dos dois. O conforto e a sensação de segurança me faziam adormecer tão rapidamente, que no dia seguinte eu nem me recordava da noite anterior, até as luzes serem apagadas novamente e toda essa agonia se repetir... Mas uma coisa eu não me lembro. Quem abriu a porta...