sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Observações de um pássaro...


Passa tempo, chuva cai e tudo permanece igual. “Cadê o pássaro cantor que vi hoje cedo?” Rádio ligado, vozes da TV e um livro aberto na página 75 em cima da cama. “O que fazer?” Passa lá, lá e cá. “Já sei!” Folhas de papel e um lápis são arremessados em cima do sofá. “Olá querido eu, dia parado não é?” Um sinal de alerta. Era apenas a campainha anunciando uma estranha pessoa vendendo coisas nada interessantes. A atenção desviada para a TV fez com que o lápis e o papel fossem varridos de sua cabeça. “Há, há, há”. Um programa de humor.

Ouve-se uma melodia conhecida. Lembranças adormecidas voltam em ritmo de festa em sua memória. A melodia ganha voz. “Aqui estou eu sozinho com o tempo, o tempo que você me pediu.” Foi apenas o que ele ouviu antes de voltar para o seu papel e seu lápis, com os olhos marejados e brilhantes.

“Olá querido eu, dia parado não é?” Foi o que já havia escrito em apenas uma linha. Com a face brandamente conformada, agarrou o lápis que pareceu desaparecer entre seus dedos.

“... dia parado não é? Mas peço com grande carinho que você acredite em si, pois assim como os livros, nossas vidas possuem capítulos ruins e capítulos bons. Considere o erro como uma arte, pois não há maneira mais eficiente de obter ensinamentos importantes. Considere o acerto como uma festa de réveillon, pois não conheço nada tão bem comemorado. O tempo que eu lhe pedi, será o tempo que você necessitar para aprender que tudo irá acontecer da forma que você permitir, porém a humildade deverá ser colocada antes de qualquer coisa. E se arremesse contra a idéia imposta em sua cabeça, de que escrever para si mesmo, seja um bom exercício de reflexão e escrita.”

Um barulho de chuveiro ligado abafa o som da TV. Ele decidiu tomar um banho. 15 minutos depois. Ele vai sair para algum lugar, pois está se arrumando. “hoje começarei a seguir uma nova vida”. Com essas palavras ele guarda o livro que estava aberto na página 75 em cima da cama. Recolhe o lápis e o papel com que ele acabara de escrever e guarda junto ao livro.

A porta de saída se abre e ele simplesmente recolhe as chaves. Retira-se, me deixando solitário e obrigado a voltar a voar e cantar janela afora... Para onde ele terá ido?

Um comentário:

  1. Que belo texto!
    Enquanto lia imaginei tudo que descrevia... um pouco nostálgico para mim.
    Apesar de tristinho, amei o post...

    http://refugiopcional.blogspot.com/

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